UMA ANÁLISE LITERÁRIA DE GÊNESIS 1—11
DOI:
https://doi.org/10.53546/2674-5593.cog.2021.70Palavras-chave:
Bíblia como literatura, Pentateuco, Gênesis, Mitologia, Antigo TestamentoResumo
Interpretar um texto é deveras desafiador diante da encruzilhada de métodos interpretativos: o contexto imediato do autor, a situação de concepção-produção do texto, e o contexto histórico, social e cultural da recepção pelo leitor. Nesse sentido, ao nos depararmos com o texto sagrado, especificamente a perícope de Gênesis 1—11, qual lente seria adequada, no âmbito da crítica literária: métodos transcendentes, métodos imanentes ou métodos integradores? Caberia aqui ao leitor-receptor, em um exercício crítico-reflexivo, definir qual caminho a seguir na aventura da leitura/interpretação do texto. Ou seja, de que maneira podemos interpretar Gênesis 1—11? Seria o viés hermenêutico religioso e jurídico como método eficaz de interpretação? É possível colocar o texto bíblico no cânone aristotélico dos gêneros literários? Seria a interpretação mitológica a maneira efetiva de produzir sentido catártico, pensamento crítico, ou a alienação religiosa? Partindo de tais questionamentos, o presente artigo tem como objetivo desenvolver, por meio de pesquisa bibliográfica, o estudo de Gênesis 1—11 como estrutura literária e mitológica, utilizando-se da teoria literária, como suporte para possibilidades interpretativas e a temática do mito como propulsor de significações na dinâmica de recepção e análise crítica. Assim, adentraremos à poética aristotélica; analisaremos a estrutura literária do Pentateuco (Torá); induziremos ao estudo da mitologia presente em Gênesis e, por fim, verificaremos a estrutura toledot em toda a tessitura de Gênesis. Pode-se concluir que ao analisar o texto bíblico em seus aspectos literários, o(s) autor(es) de Gênesis desenvolveram e apresentaram o dilema do ser humano diante do caos, do trágico, em uma estética literária que nos apresenta questões como o arrependimento, a angústia, a alegria, a traição, a benção, a maldição como temas recorrentes, sejam dos escritos sagrados e míticos, assim como ocorre na tradição literária posterior das fábulas, contos e romances.Referências
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